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'Verificação não é ego, MAS sinal de credibilidade' diz Nath finANÇAS

  • Writer: Leonardo Montel
    Leonardo Montel
  • Dec 1, 2020
  • 4 min read

Updated: Dec 16, 2020



Com quase 300 mil seguidores na conta do Instagram, a jovem estudante de administração, Nathália Rodrigues, de 21 anos, conta que começou a gravar vídeos de graça por não se sentir representada pelos blogueiros tradicionais. Só depois de um ano criando conteúdo para a internet, a ‘Nath Finanças’ recebeu a primeira parcela de monetização do YouTube, em novembro deste ano. Para ela, o código de verificação das redes sociais para influenciadores negros e periféricos é uma conquista que demora mais para ser aprovada pelas plataformas.


Nath dá dicas de organização financeira para pessoas de baixa renda nas redes sociais, além de trabalhar e estudar. Mas ela ainda diz se sentir privilegiada pelo lugar de onde veio e aonde chegou. Os holofotes nas redes já não são mais exclusivos para os influenciadores digitais que esbanjam bens materiais e experiências caras. Mas há ainda uma discrepância no tratamento das marcas que acirram a desigualdade entre influenciadores ricos e periféricos?


DEMOCRACIA NA INTERNET


A imagem de promotora de produções democráticas atribuída à internet se tornou a maior revolução desta geração. Porém, certa atribuição ainda é otimista, uma novidade nas redes: quem não cansou de ouvir o famoso “oi, meninas” sempre vindo acompanhado de dicas inalcançáveis para maior parte da população brasileira? Aparentemente, 2021 pode ser o ano da consolidação de produtores de conteúdo periféricos que dão dicas do dia a dia para viver bem com pouco. Uma aproximação ainda maior do produtor e do consumidor de conteúdo em texto e audiovisual. O número de canais e seguidores de influenciadores da periferia cresceu exponencialmente nos últimos anos.


Para entender melhor o universo dos influenciadores, a AdWeek publicou um infográfico que diz que 95% dos influenciadores no mundo são mulheres e apenas 5% são homens. Desses, 75% estão na faixa etária entre os 25 e 34 anos. Mas ainda não se fala muito da classe social desses jovens. Para Nath Finanças, o maior incentivo dos jovens brasileiros que produzem conteúdo nas redes é a esperança de ter retorno financeiro com o trabalho ou ganhar produtos de grandes anunciantes. Ela cita, entretanto, a frase de uma amiga influenciadora: ”mimo não enche barriga”, e explica: “os influenciadores periféricos, na maioria das vezes, não conseguem viver dessa profissão: estudam, trabalham e ainda produzem. Fora que os influenciadores pretos e periféricos não recebem o selinho azul de verificação de redes sociais como o Twitter e o Instagram”. Nath explica, com tom de indignação. “Verificação não é ego, verificação é um sinal de credibilidade nas redes”, completa Nathália.


INFLUENCIADORES DA PERIFERIA PARA A PERIFERIA


Moradora de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, Nathália se sentiu motivada em criar uma plataforma após perceber uma falta de representação sobre a área de finanças nas redes. “Não estava me sentindo representada no meio da internet porque são pessoas que têm uma grana maior e querem ensinar quem é pobre a investir e a guardar dinheiro. Pobre não tem como guardar mil reais”, afirma. Ensinar educação financeira de forma fácil, prática e rápida para trabalhadores que ganham pouco, estudantes, desempregados e estagiários é a proposta do canal ‘Finanças com a Nath’”.


Com linguagem popular, cheia de gírias e sotaques diferentes, os vloggers se comunicam de forma simples e direta: orientações financeiras para quem ganha pouco, jovens mostrando rimas e músicas, artes, maneiras de evitar o endividamento, ou até mesmo palpites de como gerir pequenos negócios. Além disso, a nova geração mostra que a era do celular na mão e muitas ideias na cabeça chegou para ficar. Exemplo disso é o “Suburbanos da Depressão”, canal no Instagram que passa táticas de como encontrar lugares legais e acessíveis para comer, melhores datas para conseguir descontos e cupons em compras e lugares para se divertir gastando pouco ou quase nada. São os influenciadores digitais que produzem da periferia para a periferia, e que apostam em mostrar a vida real, sem glamour, compras ou viagens ao exterior.


Ainda que 60% das casas dos brasileiros da base da pirâmide social (classes D e E) não tenham acesso à internet, segundo a pesquisa do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) de 2018, os jovens periféricos brasileiros aparecem online através de medidas alternativas, como por meio de redes de internet de lugares públicos. Talvez por esse mesmo motivo, os dados apresentados mostram que 98% dessa parcela da população acessa a internet pelo celular.


Com aproximadamente 5 cinco mil inscritos em seu canal no Youtube, Tiê Vasconcelos fala sobre como se tornou uma digital influencer Moradora do Complexo do Alemão e influenciadora digital. Tiê é instagramer, e tem um programa semanal na plataforma chamado “Digital Cachaça Influencer”, que dá dicas sobre onde encontrar cervejas a preços acessíveis. “A ideia é ter uma espécie de mini roteiro de bares baratos para jovens que querem aproveitar gastando pouco, (em mundo pós-pandemia)”, afirma Tiê.

No total, 60% da população mundial ainda permanece offline. Em lugares onde o acesso à rede é fácil e a tecnologia está em expansão, os índices não apresentaram mudanças nos últimos anos: em países desenvolvidos, a tecnologia emprega apenas 3% a 5% da população. E em países em desenvolvimento, o valor cai para 1%.


UTILIDADE PÚBLICA


Para a jornalista Elena Wesley, elas são “utilidade pública”. Elena coordena o projeto Narra, uma agência de jornalismo formada por jovens repórteres criados em favelas cariocas, iniciativa do Observatório das Favelas, organização social sediada no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. Elena reforça a importância da reportagem comunitária, que denuncia situações vividas na periferia que nem sempre grandes veículos percebem. E 36% dos internautas das classes mais baixas postam textos, fotos e músicas criadas por eles. Na classe A, o porcentual sobe para 55%. O Banco Mundial mostra que as pessoas que possuem alto grau de educação e situação financeira conseguem aproveitar mais a internet do que pessoas que não possuem as mesmas condições. “Esses influenciadores são de utilidade pública, pois eles representam o dia-a-dia do público que o assiste. Representatividade é sim cada vez mais importante e esses jovens sabem disso.”.


 
 
 

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