top of page

produtores de conteúdos esotéricos são a onda da vez

  • Writer: Mariana Fontes
    Mariana Fontes
  • Dec 4, 2020
  • 3 min read

Updated: Dec 16, 2020


ree
Foto: skyistheanswer

O esoterismo é a onda da vez nas redes sociais e tem acumulado milhares de seguidores entre os chamados ‘astro-influencers’, os influenciadores que produzem conteúdos esotéricos e místicos em seus perfis no Instagram ou Twitter. O caminho rumo ao conteúdo digital foi um processo natural para Camila Frago, que trabalhava com moda e produção de vídeos antes de receber um chamado para mergulhar nos estudos sobre autoconhecimento e sagrado feminino. Hoje, Camila trabalha com leitura de almas e, à frente do perfil que leva seu nome, conta com mais de 26 mil seguidores no Instagram: “Pedi demissão da produtora que criei e sabia que deveria começar a atender com as técnicas que vinha aprendendo. A melhor forma de fazer isso, foi criando um Instagram. Decidi usar a criatividade para divulgar meu trabalho, deixei o processo ser mais intuitivo e acabou dando super certo”.


Esse movimento tem sido importante para democratizar assuntos que, há alguns anos, circulariam apenas entre grupos menores e mais privilegiados da sociedade. Como a maior parte dos brasileiros, Rafaela Gomes, de 22 anos, conta que vem de uma família tradicionalmente católica e graças as redes sociais passou a ter contato com outros tipos de espiritualidade. Para a jovem, os perfis que falam sobre esoterismo e astrologia ajudam a abrir um novo horizonte para quem pouco ou nada conhece sobre essas práticas: “antes disso não imaginava tantas leituras possíveis para o mundo visível e invisível”, conta ao dizer que lê, religiosamente, seu horóscopo todos os dias e que é de sagitário.


Pamela Ribeiro, oraculista com mais de 54 mil seguidores em seu perfil A Bruxa Preta no Instagram, afirma que a capacidade em alcançar as mais diferentes pessoas é o grande diferencial das redes sociais. Além disso, ela também ressalta a importância do papel que a linguagem desempenha no processo de democratização dos conhecimentos esotéricos.


Pamela Ribeiro, Camila Frago e Ariel Bego. Foto: Instagram
Pamela Ribeiro, Camila Frago e Ariel Bego. Foto: Instagram

“Estamos em um momentos em que é preciso recorrer a outras cosmovisões. Então, dar a esses conhecimentos uma linguagem mais acessível, fazer deles não apenas um mistério, ou privilégio de alguns, mas mostrar para pessoas como eu, uma mulher preta e favelada, que existem formas indescritíveis de se enxergar a realidade, é muito importante”, explica.


É comum ver memes ironizando as clássicas cartas do Tarot e horóscopos debochados e sincerões bombarem nas redes sociais com milhares de compartilhamentos. Entretanto, alerta Ariel Bego, é preciso ter cuidado com a forma com que isso é feito, para não simplificar demais e acabar tornando o conteúdo apenas um caça likes’.


Criadora do Saturno de Saia, Ariel publica diariamente posts relacionados à Bruxaria, Astrologia, Tarot e Thetahealing para seus mais de 67 mil seguidores e conta com uma equipe de mais dois profissionais nos atendimentos. “O mapa astral da pessoa não é um signo só, são 12. Simplificar demais pode zoar nesse aspecto, porque na astrologia existe essa ideia muito forte de que todo mapa é único e a leitura dele também. O principal problema dos memes acho que é esse, os esteriótipos que existem em cima. Se você levar aquilo só na piada tudo certo, agora se tá reverberando estereótipos é muito chato, acho desagradável xingar pessoas pelo signo, não faço isso.”


Além disso, o ambiente da internet acaba cobrando um comprometimento maior com aquilo que se diz e o modo com que é dito justamente por sua capacidade de expandir a voz do interlocutor para distâncias que eles mesmos não controlam. Isso já bastaria para impor uma série de conflitos éticos na vida de um influenciador mas, segundo Pamela, no caso de conteúdos ligados a espiritualidade as implicações são maiores. Segundo ela, é importante se atentar para perfis e discursos que pregam um modelo de espiritualidade com pouca ou nenhuma consciência de classe.


“Como uma mulher que se apresenta sendo bruxa, umbandista, sinto que os desafios são enormes. Mas é preciso assumir a responsabilidade ética de trazer para o discurso tudo o que tradicionalmente fica à margem dele”.


Para Ariel Bego esse também é um desafio primário que se coloca ao pensar nas implicações que produzir conteúdos ligados a espiritualidade traz. Ela conta que “é preciso, mais do que nunca, furar a bolha de luz e paz interior em que vivem alguns terapeutas” e atrelar o trabalho com a realidade das pessoas sem deixar a política de fora. “Tento trazer esse empoderamento feminino, de classes, da comunidade lgbtqia+, de gente preta, da quebrada. É nessa galera que eu foco porque ainda é muito estilista. Tenho muitas colegas que falam como esse conhecimento ainda é restrito. Então o meu papel, a minha ética de trabalho, é tentar reverter isso, colocar mais cores na coisa e tirar essa branquidão toda.”

 
 
 

Comments


Laboratório de Jornalismo Impresso |  PUC-Rio - 2020.2 | Prof. Chico Otávio

© 2023 por O Artefato. Orgulhosamente criado com Wix.com

  • Facebook B&W
  • Twitter B&W
  • Branca Ícone Instagram
bottom of page