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cultura do cancelamento cria ambientes hostis

  • Writer: Heloiza Batista
    Heloiza Batista
  • Dec 2, 2020
  • 3 min read

Updated: Dec 16, 2020


Foto: dailycal
Psicólogo alerta que a cultura do cancelamento pode trazer danos para a saúde mental dos usuários e também dos influencers. Foto: dailycal


A cultura do cancelamento, que mobiliza os discursos de ódio por meio dos espaços virtuais, pode provocar medo e hesitação, o que ocasiona a redução de uma comunicação livre e da participação em debates. O psicólogo Henrique Pereira, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, argumenta que a exposição e o ataque se tornaram comuns nos âmbitos digitais, que se transformaram em espaços hostis, onde não existe a oportunidade de diálogo. De acordo com ele, o receio de expor opiniões afeta também as relações pessoais fora do meio digital.


A influencer Isabella Formagio recebeu insultos dos internautas depois de reclamar do barulho causado pelos protestos pró-democracia realizados no mês de Junho, na Avenida Paulista, em São Paulo. Isabella foi “cancelada” pelo público, que não gostou e criticou a atitude no Twitter e no Instagram. Após os comentários negativos, a influencer pediu desculpas sobre o caso e tornou privada a conta do Instagram. O psicólogo ressalta que situações como essas se tornaram comuns na internet, os ataques deixam as pessoas intimidadas e com receio de expor as próprias opiniões por medo de serem canceladas mais de uma vez.


- Ao invés de promover o diálogo, a cultura do cancelamento cria um ambiente hostil e bélico, em que as pessoas ficam com medo de dar uma opinião por medo de ser cancelados. A lógica do cancelamento começa a ser produzida também na nossa vida, fora das redes sociais, pois é mais fácil cancelar e afastar alguém do que chamar para um diálogo e entender quais razões os levaram até lá - pondera Henrique Pereira.


A cultura do cancelamento pode causar transtornos mentais


Pereira analisa que a cultura do cancelamento pode trazer danos para a saúde mental dos usuários e também dos influencers. O psicólogo afirma que o alto índice de pessoas com doenças, como a ansiedade e a depressão, é reflexo de uma sociedade afetada pelo cancelamento. “Pessoas já cometeram suicídios por causa dos ataques exacerbados que receberam em redes sociais”, destaca Pereira.


O psicólogo alerta que o hábito de checagem excessiva de notificações nos aparelhos digitais pode causar um transtorno conhecido como FoMO (Fear of Missing Out), que, em português, quer dizer “medo de ficar de fora”. A síndrome ocorre quando o usuário sente a falta de acontecimentos semelhantes, como viagens e festas, que as figuras públicas participam, na própria rotina. O medo da opinião dos outros também é a causa de outra síndrome, conhecida como FOPO (Fear of other people's opinion). Pereira observa que o FoMO e o FOPO podem causar sintomas como angústia, mau humor e até a depressão, são diagnosticados em jovens e adultos até 34 anos, mas podem afetar pessoas de qualquer idade.


O pesquisador do Grupo de Pesquisa em Imagem e Sociabilidade da Universidade Federal de Minas Gerais, Pedro Henrique da Paixão diz que um público pode ser entendido como um conceito sociológico, com grupos múltiplos e heterogêneos, e pode ser utilizado para pensar a cultura do cancelamento nas redes. Paixão frisa que a rapidez na comunicação, principalmente entre os consumidores e produtores de conteúdo, contribui para a construção de coletivos sociais dentro das redes. Segundo ele, esses aspectos influenciam para uma rápida mobilização de indivíduos como um público, que se afetam e respondem quando ocorre conflitos.


- Eles sofrem uma afetação coletiva e respondem coletivamente, se uma celebridade X fizer um comentário racista, podemos imaginar que tal ação vai afetar coletivamente um grande número de indivíduos, que participam de grupos sociais diferentes. Essas pessoas são afetadas o suficiente para indagar sobre a situação, seja denunciando, ressaltando suas falhas morais, pedindo boicotes, ou mesmo defendendo, indicando outras interpretações do ocorrido e atacando a própria mobilização -, explica Paixão.


O pesquisador afirma que em determinados debates nas redes os ânimos ficam acirrados e polarizados, nessas ocasiões a tolerância cede espaço para o medo e a desconfiança. Ele explica que quando alguém executa uma ação classificada como imoral pelo resto de um público, a pessoa passa a ser vista como indesejável e cancelável. Paixão acrescenta que apontar os erros publicamente tem a função de denunciar, para todo esse grupo social, as transgressões morais e quebras de normas realizadas pelo indivíduo, como forma de punição e exclusão.


- Esse fenômeno ocorre em diversos âmbitos da vida social, podemos pensar nos colegas de trabalho que gostamos e aqueles que classificamos como sem noção, um familiar querido e aquele que a visita é indesejada. No entanto, a própria formação das relações sociais nos fazem abrir mão de certas coisas, ser tolerante com outras, pois uma coesão unificada numa sociedade plural é virtualmente impossível -, explicita Pedro Henrique da Paixão.


 
 
 

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