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Exposição da vida perfeita na internet pode afetar a saúde mental

  • Writer: Ana Flávia Farias
    Ana Flávia Farias
  • Nov 16, 2020
  • 4 min read

Updated: Dec 16, 2020



As influenciadoras Kailany Anthonelly, Jordânia Nogueira e Angélica Silva | Reprodução: Instagram
As influenciadoras Kailany Anthonelly, Jordânia Nogueira e Angélica Silva | Reprodução: Instagram

A vida perfeita exposta nas redes sociais, reforçada pelo uso de filtros digitais, pode ser prejudicial para a saúde mental dos seguidores de influenciadores da internet, alerta a psicóloga e terapeuta Ana Carolina Eboli Mediolaro. De acordo com ela, ajustes feitos pelos filtros, como afinar nariz, aumentar a boca, diminuir bochecha, deixar a pele perfeita, reforçam a busca deixar a pele perfeita, reforçam a busca do público por uma impecável aparência estética.


“As pessoas, muitas vezes, olham para aquilo e pensam; “Caramba, quero ser assim porque está muito lindo desse jeito do filtro. As pessoas curtiram, me elogiaram, falaram que estou linda, maravilhosa. Eu vou buscar esses procedimentos porque sei que vou ter uma certa aprovação’”, alerta a psicóloga.


De acordo com estatísticas mais recentes da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), entre 2016 e 2018, as cirurgias plásticas cresceram 18,3%. Das 1,7 milhão de plásticas feitas no Brasil, durante o período, 60,3% são de estética. O Brasil faz parte de dois dos principais países (junto com os EUA) responsáveis por 27,4% dos procedimentos estéticos realizados no mundo, segundo dados divulgados pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS).


Os dados são mais chamativos com relação aos adolescentes e às mulheres. A SBCP divulgou também que as cirurgias plásticas nos jovens cresceram 141% nos últimos dez anos. E, pelo menos 800 mil mulheres fizeram alguma intervenção estética em 2018.


A RESPONSABILIDADE DO CONTEÚDO DOS INFLUENCIADORES DIGITAIS


A pressão estética e social gerada pela propagação do corpo e da vida perfeita tem afastado pessoas das redes sociais. A estudante de direito Maria Mattos desativou todas suas redes sociais para preservar sua saúde mental. “Eu me via comparando meu corpo, meu cabelo, minha pele com blogueiras que nem pareciam comigo. Eu tenho o cabelo cacheado e me comparava com uma mulher de cabelo liso e loiro. Também ficava triste por não poder estar viajando e comprando tudo como elas. Resolvi desativar tudo, senão iria enlouquecer”, desabafou.



Para a influenciadora digital Jordânia Nogueira, 28, seguir a profissão é ter consciência que a sua palavra tem impacto na vida dos seus seguidores. “Eu sempre mostro para as pessoas o quanto elas são incríveis e que podem ser o que quiserem. Eu gosto de inspirar pessoas a serem a melhor versão delas. Fui infeliz com meu corpo durante a maior parte da minha vida. Uma parte disso vinha da minha comparação com as pessoas que eu via na internet. Sou uma pessoa mais feliz depois de filtrar bem o que eu consumo nas redes sociais”.


O caso de uma brasileira que gastou mais de 1,5 milhão de reais para ficar parecida com a Kim Kardashian viralizou em 2018. Aos 17 anos de idade, Jennifer Pamplona realizou sua primeira cirurgia plástica. A jovem, hoje com 27 anos, tirou costelas, fez lipoaspiração, colocou implantes e fez outras intervenções para ficar com o rosto e corpo parecidos com o da socialite. “Eu me apaixonei pela cirurgia há muito tempo, mas, depois de ver Kim Kardashian, eu queria parecer e ter curvas como as dela”, disse à agência Caters.


Para que as comparações não atinjam a autoestima, o autoconhecimento é algo importante na visão da psicóloga Ana Mediolaro. “A pior coisa que tem é se comparar com uma pessoa que não é você, é uma comparação injusta. É impossível você fazer isso porque uma pessoa é completamente diferente da outra. Então, [é importante] você saber seu valor, saber sua essência, saber o que você é e estar com sua cabeça ‘ok’ nesse sentido. Para pensar “faz sentido o que essa pessoa está falando ou não? Isso é legal para mim ou não? Isso cabe a mim ou não?”.


Até mesmo influenciadores podem ser vítimas da influência negativa nas redes sociais. A influencer Angélica Silva, 27, conta como passou a vida sofrendo com comparações na internet. “Muitas vezes estamos mal com alguma questão pessoal e buscamos influencers que todo dia estão com roupa nova, viagem agendada, filhos felizes, casamento prospero... é claro que isso não vai ajudar em nada. As pessoas não entendem que, muitas vezes, elas têm que começar do zero, como eu, e que existem outras pessoas que já começaram com muitas oportunidades”.


PARA ESPECIALISTA, INFLUENCERS DEVEM TAMBÉM TER CUIDADO COM AS 'PUBLIS'



O impacto psicossocial dos influenciadores em seus seguidores pode também ser analisado através das publicidades, conhecida no meio digital como “publis”. Segundo a doutora em Comunicação Social e estudiosa de influenciadores, Karen Sica, é importante que os influencers trabalhem apenas para marcas nas quais eles confiem e acreditam, para gerar credibilidade e passar verdade para seus seguidores. “As publis precisam ser marcadas como publicidade nas postagens para deixar bem claro que aquele conteúdo foi pago. Na verdade, acho que o influenciador precisa ter cuidado ao aceitar uma publi, assim como as marcas também precisam cuidar muito ao escolher um influenciador digital. Por isso, digo que é importante que o influenciador realmente acredite naquele produto e naquela marca”.



A jornalista fala também sobre o perigo da identificação plena do público com os influencers. “Quanto maior a identificação, maior a chance de serem influenciados por eles. Os influenciadores digitais trabalham de forma a conquistar cada vez mais seguidores na sua área de atuação e de mercado. É preocupante por um lado, pois o público, muitas vezes, não tem discernimento e acredita em tudo que vê. Por isso a importância de deixar claro quando o conteúdo é um publi”.


A responsabilidade de um influenciador digital é ser verdadeiro com seus seguidores para não causar frustrações e comparações injustas. É o que acredita a influenciadora digital Kailany Anthonelly, de 18 anos. “Os seguidores esperam nossa opinião sobre algo, então temos que falar sempre a verdade. Eu vejo muitas pessoas falarem que sou inspiração para elas por eu ter a coragem de fazer o que realmente amo. Muita gente tem medo de chegar em uma rede social gravar e postar algo por medo do que vão falar. Então, acho que esse é o impacto que eu causo: estar aqui, na internet, e ser sincera”.


 
 
 

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